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União dos Palmares
DADOS GEOGRAFICOS

Acesso: BR 104
Distância da capital: 83 km
Localização: Região da Zona da Mata Alagoana
Limites: Santana do Mundaú, Branquinha, Joaquim Gomes,
Ibateguara e São José da Lage
Clima: Temperado
Temperatura: Máxima 28°C e mínima 18°C
Altitude: 155 metros acima do nível do mar
Área: 426 km2
População: 60.619 habitantes
Eleitores: 104.814
Economia: Agroindústria de cana-de-açúcar,
Pecuária e Agricultura..


O município de União dos Palmares teve origem no século XVIII. Os primeiros moradores surgiram nos arredores de um cruzeiro denominado Cerca Real dos Macacos, à margem esquerda do rio Mundaú. A primeira capela da localidade foi dedicada à Santa Maria Madalena, que passou a denominar a povoação. Seu desenvolvimento causou o desmembramento de Atalaia, sendo criada então a Vila Nova Imperatriz, sendo elevada à categoria de cidade em 20 de agosto de 1889.
           Um ano depois, baseado no fato do município ser o elo entre as estradas de ferro de Alagoas e Pernambuco, recebeu o nome de União. E, em 1944, mudou definitivamente para União dos Palmares, em homenagem ao Quilombo, símbolo da resistência negra, que permaneceu na região por quase um século e tendo como líder maior o negro Zumbi. 
A Serra da Barriga, cenário das lutas quilombolas, chegou a reunir mais de 30 mil negros. Do alto da serra a paisagem é deslumbrante, proporcionando uma vista panorâmica do Rio Mundaú e dos vales cobertos pela cana-de-açúcar e palmeiras. Nela, que é tombada como Patrimônio Histórico Nacional, existe o Parque Nacional de Zumbi.
           O Dia Nacional da Consciência Negra é festejado em 20 de novembro (dia da morte de Zumbi), na Serra da Barriga e na Praça Brasiliano Sarmento, com apresentações folclóricas de bandas afras, emboladores e o guerreiro matuto. No calendário festivo da cidade também figuram: a festa da Ppdroeira, Santa Maria Madalena (23/01 a 02/02); o carnaval, a Semana Jorge de Lima (20 a 24/04); a festa do milho (20 a 30/06); a Semana do Folclore (17 a 22/08) e a emancipação política (13/10).           
O município é um tradicional pólo de fabricação de peças artesanais de cerâmica e barro de Alagoas. São produzidos potes, travessas, moringas ou quartinhas, jarras e cinzeiros. Produtos em palha, cerâmica e brinquedos infantis (em tecido, madeira e lata) são outros itens encontrados no artesanato palmarino.
Fatos Históricos

1597- Fundação do Quilombo dos Palmares por Aqualtune. que posteriormente tornou a Serra da Barriga a Capital do Quilombo, Servindo como residência oficial aos grandes chefes Ganga Zumba e Zumbi dos Palmares, Sabendo-se que no decorrer dos tempos o Quilombo se descentralizou entre dezenas de mocambos espalhados por toda região da mata, onde cada um tinha seu comandante-em-chefe que juntos prestavam obediência ao grande chefe na Cerca Real dos Macacos. Situada na Serra da Barriga.
1694- A Cerca Real foi destruída em 06 de fevereiro, após dois anos de intenso combate com os inimigos, que surpreenderam os quilombolas usando seis canhões, tipo de armamento pouco conhecido pelos palmarinos. Nesta época, residiam cerca de 5.000 (cinco mil) quilombolas, entre negros, índios e alguns brancos. Muitos foram degolados, alguns se jogaram no despenhadeiro, outros fugiram com Zumbi para a Serra Dois Irmãos entre as atuais cidades de Viçosa e Cajueiro, sendo que em média 500 (quinhentos) quilombolas foram capturados com vida.

1980- Em agosto deste ano, militantes do Movimento Negro local e nacional subiram à Serra pela primeira vez. Tal iniciativa transformou a história até os tempos de hoje. Um passo importante foi a criação do Memorial Zumbi, que tinha como objetivo primordial, recuperar a história do Quilombo dos Palmares e transformá-la em marco de luta no seio da Comunidade Negra Brasileira;

1985- Em novembro a Serra da Barriga é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico - Artístico Nacional – IPHAN. Foi caracterizada em novembro como Conjunto Histórico Paisagístico também pelo Instituto do Patrimônio Histórico - Artístico Nacional – IPHAN;
1986- A Serra da Barriga foi inscrita no Livro de Tombamento Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico do Instituto do Patrimônio Histórico - Artístico Nacional – IPHAN;

1988- Foi reconhecido no mês de março como MONUMENTO NACIONAL através do Decreto 95.855.

1994/1995- 300 anos de imortalidade de Zumbi dos Palmares A Serra foi palco de visitações e peregrinações de milhares de pessoas advindas de todas as regiões do Brasil e vários países do Continente Africano, Europeu, Norte e Sul Americano. Neste Biênio, o Movimento Negro Local e Nacional articulou junto a Fundação Cultural Palmares dois grandes eventos em homenagem aos Guerreiros Quilombolas, pelos trezentos anos de ZUMBI.

A cidade de União dos Palmares foi visitada por mais de 10.000 (dez mil pessoas), cujos shows nos “20 de novembro” (Dia Nacional da Consciência Negra) propiciaram em plena praça pública apresentações de artistas nacionais e internacionais, a exemplo do Balé Africano de Angola KALANGO KILO, dentre outros.

Em julho de 1995, um grupo de Agentes de Pastoral Negros do Brasil (APNs) em seu Encontro Nacional em Alagoas, chegara no “Trem da Liberdade” à cidade de União dos Palmares, trazendo seis vagões com centenas de militantes de todas as regiões brasileiras. Juntamente com os segmentos negros de Alagoas, subiram a pé a Serra da Barriga em plena madrugada, onde realizaram uma vigília ecumênica em homenagem aos guerreiros, a Zumbi dos Palmares e todos os seus ancestrais. Tal vigília tornou-se uma das mais belas homenagens haja vista na Serra da Barriga.

20 de novembro de 1995 – Dia em que o presidente Fernando Henrique Cardoso visitou a Serra da Barriga e a cidade de União dos Palmares, acompanhado por alguns ministros, sendo um dos visitantes o Sr. Edson Arantes do Nascimento – Pelé. Na oportunidade foi anunciada a criação de um grupo de trabalho interministerial para discutir o resgate da memória de Zumbi.
Neste mesmo dia em Brasília o Movimento Negro realizou a Macha Nacional – Zumbi 300 anos, entregando ao então Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso uma série de reivindicações em favor do povo negro brasileiro.

1996- No dia 21 de março (Dia Internacional pela Eliminação do Racismo), Zumbi dos Palmares foi considerado Herói Nacional Brasileiro, inscrito no livro do tombo.

Neste mesmo ano, no dia 13 de dezembro, dia de Santa Luzia para a Comunidade Católica, aconteceram pelo menos cinco (05) grandes Romarias da Terra, promovidas pelos segmentos: Comissão Pastoral da Terra – CPT; Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, Pastoral de Juventude do Meio Popular – PJMP; Agentes de Pastoral Negros – APNs, dezenas de paróquias e diversos outros movimentos. Durante tais romarias, em média 3.000 (três mil) participantes, subiam a pé a Serra desde o Sitio Recanto, entoando cantos e prestando homenagens aos mártires quilombolas, inclusive tirando seus calçados ao se aproximarem do Platô da Serra por entenderem ser ali um solo sagrado.

2000- Pela primeira vez as comemorações não aconteceram no Platô da Serra da Barriga, sendo para isso, erguida uma Vila Cenográfica no sopé da Serra em terras não tombadas, cujas comemorações marcaram profundamente os visitantes que se deslumbraram com um mega show em homenagem aos ancestrais da comunidade palmarina.

2003- 20 de novembro – Visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao Platô da Serra da Barriga, juntamente com alguns ministros e autoridades locais, onde foram assinados vários documentos e lançada a Política Nacional de Igualdade Racial;

2006- É apresentado pelo Instituto Magna Mater – Organização Não Governamental de Alagoas, o Projeto: Parque Memorial Quilombo dos Palmares, que ao ser acatado pelo Ministério da Cultura, Fundação Cultural Palmares, Governo do Estado de Alagoas e Prefeitura Municipal de União dos Palmares, contemplou-se em forma de patrocínio pela Petrobrás e Ministério do Turismo.Em maio é aberto o Parque Memorial Quilombo dos Palmares.
Zumbi
Negro de singular valor, grande ânimo e constância rara; este é o espectador dos mais, porque a sua indústria, juízo e fortaleza aos nossos serve de embaraço, aos seus de exemplo.
- Descrição com notícias importantes do interior de Pernambuco, etc.
O pacto feito por Ganga-Zumba deve ter suscitado múltiplas e obstinadas resistências, principalmente devido à cláusula cruel que imolava ao cativeiro todos os nascidos fora de Palmares. O reduzido número dos que seguiam Ganga-Zumba constitui uma indicação de que mesmo os beneficiários do pacto desconfiavam instintivamente das intenções das autoridades coloniais e dos senhores de escravos. No intuito de atrair para Cucaú maior número de palmarinos, as autoridades de Recife chegaram a cogitar da concessão de alforria a escravos, porém esbarraram na oposição dos senhores de engenho.
Aparentemente, Zumbi pôde ocupar Macaco sem dificuldade. Aclamado Grande Chefe, assumiu o governo e instaurou uma ditadura: algo assim como uma ditadura de salvação política. A capitulação de Ganga-Zumba ainda estava por produzir suas piores conseqüências, levando-se em conta que importantes chefes militares haviam desertado para Cucaú e que o inimigo contaria doravante com as mais completas informações sobre a organização interna da república. Os que perseveravam na rebelião tinham pela frente a perspectiva de uma guerra em condições mais desfavoráveis que nunca. A pátria dos escravos estava em perigo.
Zumbi, sem perda de tempo, subordinou toda a vida de Palmares às exigências da guerra implacável que se anunciava. Deslocou povoações inteiras para lugares mais remotos. Incorporou às milícias e submeteu a adestramento intensivo todos os homens válidos. Multiplicou os postos de vigilância e observação na orla das matas. Despachou agentes para reunirem armas e munições. Reforçou as fortificações de Macaco a ponto de torná-la quase inexpugnável. Finalmente, decretou a lei marcial: os que tentassem desertar para Cucaú, seriam passados pelas armas.
Zumbi nasceu no começo do ano de 1655, numa das inúmeras povoações palmarinas. Conta-se que recém-nascido foi dado de presente ao padre português Antônio Melo, do distrito de Porto Calvo, cujos limites marcavam a fronteira entre o povoamento luso-brasileiro e a república negra.
O padre regressou a Portugal em 1682 para ser pároco de Santarém, de onde escreveu a um amigo do Porto, ao que tudo indica um padre, várias cartas em que dá notícia de Zumbi.
Conta o padre que batizou o pretinho e lhe deu o nome de Francisco. Ensinou-o a ler e o fez seu coroinha quando contava dez anos de idade. O padre não tratava, pois, o pretinho como escravo, o que se explica por uma jurisprudência do Conselho Ultramarino, afinal consolidada por alvará régio de 1682, de que os negros nascidos em Palmares não eram escravos. Declara o padre Antônio Melo que Francisco demonstrava “engenho jamais imaginável na raça negra e que bem poucas vezes encontrei em brancos”. Aos dez anos, Francisco “conhecia todo o latim que há mister e crescia em português e latim muito a contento”.
Uma vez que Francisco sempre patenteara “cordura perfeitamente cristão”, o padre ficou consternado e perplexo quando, certa manhã do ano de 1670, descobriu que seu coroinha, então com 15 anos de idade, fugira para a “companhia dos negros levantados de Palmares”. Mais tarde, já chefe de Palmares, Zumbi por três vezes penetrou no distrito de Porto Calvo para visitar o padre, levando-lhe presentes “por saber da muita miséria em que me encontrava”. Por ocasião da segunda visita, o padre ficou sabendo que o caudilho negro “trocara o nome cristão Francisco pelo nome africano Zumbi que conservou até seu lastimável fim”. Parece que o padre sofreu algumas represálias pelo fato de haver mantido relações com Zumbi, pois refere que “os moradores me chamaram repetidas vezes colono dos negros”.
Quando se celebrou o pacto de Recife, Zumbi chefiava simultaneamente uma povoação e as forças armadas palmarinas.
Ao mesmo tempo em que consolidava sua posição em Palmares, tratava Zumbi de minar a de Ganga-Zumba em Cucaú.
Os senhores de engenho haviam criado na colônia um clima de descontentamento e insegurança que concorria para facilitar o desígnio do chefe palmarino. Inicialmente, a pretexto de que aquela concentração de negros constituía uma vizinhança perigosa, convenceram Lopes Galvão a rodear a área de contingentes armados de índios e mamelucos. Quando a pedido de Ganga-Zumba o governador censurou a medida, as câmaras explicaram que o que se pretendia era apenas conter os negros em respeito.
Os que haviam mudado para Cucaú sentiam-se com razão ludibriados. O número de adeptos de Zumbi cresceu rapidamente. Uns regressavam clandestinamente para Palmares, outros transmitiam informações, contrabandeavam armas e ajudavam escravos fugidos. O movimento suscitou seus líderes: João Mulato, Canhongo, Amaro e Gaspar. Ganga-Zumba comunicou às autoridades suas suspeitas de que se urdia uma conspiração para matá-lo.
Na tentativa de por fim àquele estado de coisas, o governador encarregou Gana-Zona, de ir a Macaco para assegurar ao novo chefe palmarino que poderia viver onde melhor lhe aprouvesse com seus familiares e homens de confiança. Tudo o que se lhe pedia em troca era a deposição das armas e a saída de Palmares. Gana-Zona tratou mais de um mês com Zumbi, mas nada conseguiu.
Não havia, pois, outro remédio senão tentar a submissão pelas armas. Pelo fim do ano, uma força de 200 homens sob o comando de João de Freitas da Cunha se pôs em marcha. Campanha foi breve e infeliz. Logo depois da partida sobrevieram chuvas torrenciais que desmoralizaram a tropa pela fome e pela doença, antes mesmo de qualquer contato com os palmarinos. Zumbi usou de uma tática simples. Provocou Freitas da Cunha com escaramuças e assim o foi atraindo ao recesso da mata. Multiplicou então as emboscadas e rematou com uma carga violenta que infligiu a Freitas da Cunha, no dizer do governador, “tremendo revés”. A expedição regressou a Alagoas sem armas, munições e escravos-carregadores.
Em Cucaú, os partidários de Zumbi conspiravam febrilmente contra Ganga-Zumba. Diria mais tarde o governo que os negros do Cucaú “se foram desviando do que prometeram” e “estavam conjurados para se retirarem outra vez levando muitos escravos dos moradores daquela vizinhança, além de darem avisos e levarem mantimentos e munições para a defesa dos outros postos”. Sentindo-se descobertos, os conspiradores resolveram precipitar a ação. Envenenaram Ganga-Zumba e massacraram seus homens de maior confiança. Mas deixaram escapar Gana-Zona que organizou e encabeçou a resistência.
Seguiu-se a repressão. Os chefes da intentona – João Mulato, Canhongo, Amaro e Gaspar – foram capturados e degolados. Os demais, em número superior a 200, foram condenados pelo governador, com o parecer de “pessoas doutas”, à “servidão perpétua”, e partilhados entre os grandes proprietários da região. Assim acabou Cucaú, o anti-Palmares tão esperançosamente fundado pelas autoridades coloniais.
Desde o fim da guerra contra os holandeses, contingentes do Terço dos Henriques vinham sendo agregados às expedições antipalmarinas. Teve agora o governador a idéia de mandar uma expedição composta exclusivamente de negros. Na Bahia, na luta contra os mocambos, a prática vinha dando excelentes resultados.
A intensidade da repercussão alcançada em Lisboa pelos sucessos de Cucaú pode ser apreciada à luz do alvará expedido em 10 de março de 1682 pelo Regente sobre “a liberdade, cativeiro e castigo dos negros dos Palmares da Capitania de Pernambuco”.
O acordo de 1678 representara um excelente ponto de partida para a gradual extinção da revolta negra porque dividia os rebeldes e isolava os elementos mais radicais. O malogro do acordo não só fazia voltar tudo ao estado antigo, senão que, em certos aspectos, ainda piorava as coisas. Por exemplo, reforçara-se a posição dos que, como Zumbi, eram contrários a qualquer solução de compromisso com as autoridades coloniais. Não demonstravam os acontecimentos de Cucaú o enganoso das promessas dos senhores de escravos? Não se afigurava evidente que a única alternativa à resistência nos Palmares era o cativeiro puro e simples?
A intensificação das hostilidades palmarinas e o alarmante aumento das fugas de escravos nos meses posteriores à fracassada revolta de Cucaú levaram os senhores de engenho a aplicar a lei com dureza ainda maior. Chegaram ao ponto de enjeitar o dinheiro oferecido pelas tradicionais confrarias de libertos para alforria de escravos. Isso porque, segundo diziam, os negros alforriados iam para Palmares.
Em 1683, Carrilho marchou para Palmares à frente de 300 homens. Sofreu vários reveses logo nos primeiros contatos com os palmarinos.
Souto Maior trouxera instruções expressas do agora rei D. Pedro II, para negociar uma paz com os palmarinos. Quando pode se ocupar da questão, escreveu ao rei expondo a opinião que formara. Cumpria negociar com os palmarinos porque não havia nem sequer comandantes em condições de chefiar uma expedição: os mais experimentados estavam tão velhos e achacados que careciam da energia necessária para manter a disciplina da tropa. Enquanto isso, “os moradores todas as horas me fazem queixas das tiranias que lhes estão fazendo, dando-lhes assaltos, matando brancos, levando-lhes escravos e saqueando suas casas”. Para concluir, a menos que a coroa lhe fornecesse abundantes recursos para a guerra, ver-se-ia forçado a celebrar as pazes com os negros.
Os senhores de engenho não perderam tempo em mobilizar influências em Lisboa contra esta política de pacificação.
Um ano se demorou o rei em se pronunciar sobre a questão da paz ou da guerra com Palmares. Nesse meio tempo, decidiu Souto Maior abrir negociações e despachou um emissário para Macaco.
Zumbi fez o emissário regressar com contra-propostas. Quando estas foram aceitas, apresentou novas exigências. Nesses ires e vires, o tempo ia passando.


Ganga-Zumba


“Reconhecem-se todos obedientes a um que se chama Ganga-Zumba, que quer dizer Grande Senhor; a este têm por seu rei e senhor de todos os mais, Assim naturais dos Palmares como vindos de fora...” Descrição com notícias importantes do interior de Pernambuco etc.

Em vários documentos aparecem indicações da existência em Palmares de uma organização estatal centralizada e algo complexa. As comunidades palmarinas haviam vivido muito tempo encerradas em si mesmas. A distância e a inacessibilidade reduziam forçosamente a um mínimo as relações intercomunitárias.

O governo central se exercia sobre as diferentes povoações através de uma estrutura administrativa, judicial e militar. Os funcionários administrativos tinham por principal incumbência a arrecadação dos tributos, que em uma economia seminatural como a de Palmares só podiam ser espécie. Os funcionários judicantes, ou como diz um documento, os “ministros de justiça para as execuções necessárias”, encarregavam-se da aplicação da legislação civil e criminal. Existem apenas informações sobre a legislação criminal que punia com pena de morte os delitos de homicídio, roubo, adultério e deserção, excluída, portanto, a vingança, o que sublinha nitidamente o caráter estatal da justiça palmarina.
Não há informações precisas sobre a organização constitucional. Pode-se admitir que a base do poder político residia nas assembléias locais, que seguramente decidiam por maioria de sufrágios. Estas assembléias elegiam com certeza os chefes das comunidades.

Uma assembléia dos chefes comunitários elegia o, cabeça do governo central, denominado Grande Senhor ou Grande Chefe. O primeiro Grande Chefe de que se tem notícia chamava-se Ganga-Zumba. Consta que era de nação “Arda”, um dos numerosos Estados da Costa dos Escravos fundados pelos Ewés. Os ardas possuíam civilização superior, organização militar severa e notável talento artístico. Ostentavam grande robustez física e se mostravam capazes de aprender qualquer trabalho. Eram obstinados e incorrigivelmente rebeldes. Com freqüência atacavam os feitores e os moíam a pancadas. Falavam uma língua ininteligível para os demais escravos. Ganga-Zumba nascera em Palmares. Nesse tempo já não era jovem, pois tinha numerosos netos.

A autoridade do Grande Chefe era considerável, assim como consideráveis os privilégios que gozava:

“... tem palácio, casas de suas famílias, é assistido de guardas e oficiais que costumam ter as casas reais. É tratado com todos os respeitos de rei e com todas as honras de senhor. Os que chegam à sua presença põem os joelhos no chão em sinal de seu reconhecimento e protestação de sua excelência; falam-lhe por majestade, obedecem-lhe por admiração. Habita a sua cidade real, que se chama Macaco...”.

Em Palmares a combinação de eletividade e igualdade civil faz antes pensar em uma república que em um reino. Era uma república peculiar a que não se poderiam aplicar conceitos históricos ou políticos de inspiração européia. Indubitavelmente, era uma república igualitária, fraternal e livre. O que não permite supor que o regime político fosse liberal.

O Estado palmarino surgiu plausivamente como produto de suas necessidades básicas: acomodar e agregar grupos étnica e culturalmente heterogêneos, e aglutinar forças para a luta contra o inimigo externo.

Ainda que o Estado palmarino revele um claro substrato africano, foi essencialmente uma criação original de negros que em terras da América lutavam contra as tentativas de os reduzirem outra vez à escravidão.

Em Palmares se manifestava crescente divisão entre partidários das negociações e da guerra sem quartel. Consideravam os primeiros que o refúgio palmarino deixara de oferecer segurança desde as últimas expedições levadas ao coração mesmo do seu território. Não importava que a organização palmarina continuasse intacta: seria capaz de resistir indefinidamente às investidas inimigas? Não ignoravam que atrás das sonolentas povoações litorâneas se escondia o considerável poder do império português, dotado de meios para, a longo prazo, vencer a insurreição. A conciliação com os senhores de escravos lhes parecia impossível e a paz não seria certamente mais que um engodo para reduzi-los de novo ao cativeiro. Só a guerra e a luta pela libertação da massa escrava do litoral seriam capazes de assegurar a sobrevivência de Palmares.
JORGE DE LIMA

Poeta, escritor, jornalista e Médico. Iniciou o Curso de Medicina na Bahia, concluindo-o no Rio de Janeiro. Em Maceió, foi professor de História Natural, Higiene Escolar, Catedrático de Literatura no Liceu Alagoano, da Instituição Pública e da Saúde Pública e Médico da Guarda Civil do Estado.

No Rio de Janeiro, foi catedrático de Literatura Brasileira da Universidade do Rio de Janeiro e da Universidade do Brasil, além de membro da Comissão de Literatura Infantil do Ministério da Educação, Presidente da Sociedade Carioca de Escritores da Academia Brasileira de Letras.
    
Na política, foi vereador e presidente da Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Suas principais obras são: “Banque”, “Nega Fulô”, ”Poemas Escolhidos”, ”A Túnica Inconsútil”, que lhe valeu o Grande Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras  “Vinte Sonetos de Jorge Lima”, ”As Ilhas”, ”Invenção de Orfeu”, ”Salomão e as Mulheres”, ”A Mulher Obscura”, ”Calunga”, ”O Anjo”, - Pelo qual recebeu o Prêmio da Fundação Graça Aranha  “A Comédia dos Erros”, ”Dom Vital” e a “A vida de São Francisco de Assis”.
A arquitetura de pau-a-pique com cobertura vegetal é uma referência da arquitetura africana. Esta técnica implica na construção de uma malha (ou engradamento de madeiras que posteriormente é recoberta em barro, assim formando as grades).

A espessura das paredes varia de 8,5 a 13,5cm. Os pés (para amassar o barro) e as mãos (na confecção do engradamento e colocação do barro) são fundamentais no processo de construção.

A utilização das mãos na tapagem deixa marca dos dedos, facilmente identificáveis. As marcas de madeira de sustentação e de amarração são feitas com cipós e embiras, ressaltando a importância dos materiais de origem vegetal na arquitetura do Quilombo dos Palmares e demais quilombos.Todos os troncos de madeira roliça são de eucalipto autoclavado, garantindo uma construção ecologicamente correta e adequada.
A Paliçada
Os guerreiros quilombolas construíam paliçadas para proteger os mocambos. Nos últimos anos de Palmares, se tornaram um obstáculo impenetrável, rodeadas por fossos, contendo objetos pontiagudos e armadilhas, garantindo a resistência palmarina. Para vencer a guerra, num esforço monumental, os portugueses utilizaram canhões, surpreendendo os quilombolas e determinando o fim trágico da Cerca Real dos macacos, em 6 de fevereiro de 1694.

Batucajé (Dança ao som de tambores)
Um complexo multiuso dotado de: Ponto de Informações; Lojinha; Espaço de Capoeira: Para apresentações de roda e oficinas de capoeira. O batuque é a essência da cultura afro-brasileira. O som dos tambores, dos berimbaus, dos adufes (pandeiros), dos agogôs, leva homens e mulheres a sintonizarem profundamente com seus corpos e espíritos, através da ginga da capoeira, da congada, do maracatu e do samba. Os acontecimentos da vida cotidiana, como nascimentos, mortes, plantios, colheitas, vitórias e manifestações da natureza, eram comemorados comunitariamente com danças, músicas e baticuns. Antigamente, os toques eram também um precioso meio de comunicação entre os guerreiros entre o divino e o profano.

Restaurante Kúuku-Wáana (Banquete familiar)
A culinária afro-brasileira tem uma dimensão que transcende o alimento. Ela é uma oferenda da natureza aos seres vivos e serve de elo de comunicação com os seus ancestrais. Na cultura Bantu, a culinária é um dos elementos de restauração da força vital e mantém o equilíbrio entre os vivos e os mortos. Aqui, você poderá saborear alguns dos quitutes que eram produzidos e consumidos pelos quilombolas quando chegaram à Serra da barriga em 1597, sob a liderança da princesa Aqualtune.
Onjó de Farinha (Casa de farinha)

A farinhada, tão comum nas comunidades rurais, era uma prática indígena, incorporada pelos negros e muito usada no Quilombo dos Palmares. Os quilombolas criavam animais e cultivavam milho, feijão, macaxeira, cana-de-açúcar, banana e laranja. Plantavam também a mandioca, de onde se extrai a farinha que, depois de torrada, pode ser usada no preparo de deliciosos bolos, beijus, tapiocas e outras guloseimas, tão presentes nas masas das famílias nordestinas.

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